HIBRIDISMOS DE FORMAS E CULTURAS PELA E PARA A CIDADE 

A Mostra Vertentes, da 12ª edição da Mostra Tiradentes | SP, propõe um diálogo entre curtas-metragens que remetem, de maneira não óbvia, à historicamente construída diversidade cultural, étnica e política da cosmopolita cidade de São Paulo – e do próprio Brasil.

A sessão começa com Até o Último Sopro, de Benjamin Medeiros. Produzido a partir do Looking China Youth Film Project, iniciativa que seleciona estudantes ao redor do mundo para realizarem curtas-metragens sobre a cultura chinesa, o documentário explora o impacto inicial e duradouro do som de flautas de suona. Os detalhes sobre a música popular de Fuzhou quase não nos chega de imediato, borrando para os espectadores o comumente explorado e esperado didatismo documental. 

Em seguida, Nagano, de Letícia Hayashi, mobiliza um arquivo de fotografias da família da diretora, que tem origem japonesa. A narração é composta por vozes over de artistas convidados que leem cartas com temáticas diferentes (a garantia de moradia entre elas) escritas pelos familiares de Letícia. A dissociação entre imagens e conteúdo narrado exige leitura atenta e evidencia a memória, a lembrança e a interpretação de arquivos visuais como construtos criativos inspiradores para o fazer cinematográfico. 

Depois, o documentário de cunho sindical Nosso Panfleto Seria Assim, de Leandro Olimpio, aborda a apatia de trabalhadores da Petrobras para compor a militância e as radicalidades políticas aparentemente decadentes usadas para subverter esse quadro e formar novos. Nesse caminho, deparamo-nos com imagens (por vezes nervosas) que expõem e embaralham vulnerabilidades, violências, esperança e fé.

Por fim, Mborairapé, de Roney Freitas, explora o hibridismo entre documentário e ficção e retoma os impactos sonoros (incluindo a abertura ao silêncio) que circundam a sessão. No filme, pessoas indígenas da aldeia urbana do Jaraguá cantam rap em português e em guarani, enquanto aprendem e refletem sobre por que fazê-lo. É a partir daí que se dá a jornada do protagonista. Impulsionada por mensagens de diferentes e fabulares parentes, ela culmina dando atenção ao som que vem do centro da Terra e ao fato de que parte considerável das terras da cidade são Guarani.

Um conjunto de curtas-metragens que destaca os documentários e suas possibilidades de contaminação pela ficção – e vice-versa – como formatos potentes para refletir sobre presente e passado individuais e coletivos em meio ao nosso subdesenvolvimento multicultural; em meio à nossa contemporânea necessidade de reinvenção, reconstrução e redefinição do país e de nossas dinâmicas sociais e culturais cotidianas. 

Camila Vieira
Leonardo Amaral
Lorenna Rocha
Mariana Queen Nwabasili
Pedro Guimarães
Curadores